Baseado em um conto de terror de Joe Hill, O Telefone Preto surpreende com boas doses de suspense e sobrenatural ao contar uma estória que não é inovadora… mas agrada em sua execução. 




Terror é um dos meus gêneros preferidos. Consumo este gênero com frequência e, especialmente no cinema, estou acostumada às produções cheias de clichês e roteiros sem profundidade (“a graça está em levar susto”, talvez seja essa a justificativa chula). Quando assisti ao trailer de O Telefone Preto, me preparei pra ver mais do mesmo. 

“Talvez seja um bom passatempo”; “As produções da Blumhouse costumam variar de qualidade… parece que essa é mediana”; “O cara é filho do Stephen King, o enredo não deve ser ruim”: me convenci, convenci o marido e fomos assistir. 

Que surpresa boa! 

Para os fãs do estilo de King este filme é como um bom aperitivo. Não chega a ser uma satisfação, mas agrada. O Telefone Preto é um bom exemplo de filme que mesmo se utilizando de elementos clichê e apresentando estórias banais, conseguem conquistar a atenção do público até o último minuto em tela. 
Não é um filme aterrorizante, não te faz querer virar o rosto em cenas degradantes. É o suspense que sustenta a trama ao lado das excelentes atuações que te fazem torcer e se intrigar, imaginando o que vai acontecer a seguir com aqueles personagens. 

Existem apenas dois jumpscares em todo o filme. E acredite, foram os sustos mais inesperados e tensos que já levei na vida assistindo filme. Sou acostumada, tenham isso em mente, e quase sempre desprezo esse recurso porque ele costuma ser usado de maneira simplória e para “encher linguiça” de produções sem muita complexidade narrativa. Jumpscares ruins irritam espectadores com bom gosto cinematográfico. Jumpscares bem feitos trazem a premissa dos apreciadores de filme de terror a tona: “dá gosto sentir medo”. 

Os destaques, sem dúvida, são das atuações das crianças do elenco principal e do vilão. Mason Thames interpreta o protagonista Finney; Madeleine McGraw interpreta Gwen, a irmã de Finney e Ethan Hawke é o The Grabber (o sequestrador).

O Telefone Preto é de autoria de Joe Hill, em conto homônimo publicado no Brasil pela coletânea "O telefone preto e outras histórias", o filme é escrito por Scott Derrickson e C. Robert Cargill.


SINOPSE

Nos anos 1970, um criminoso sequestra crianças (meninos) e os aprisiona em um porão com o objetivo de castigá-las até a morte. Ao ter Finney encarcerado, as coisas não saem exatamente como o planejado, pois o garoto não age como as demais vítimas. O motivo é que o garoto recebe ajuda através de um antigo telefone preto preso a parede do cárcere que não deveria funcionar, mas é através dele que os garotos que morreram nas mãos do sequestrador se comunicam com Finney com o objetivo de ajudá-lo. 
Enquanto isso a irmã mais nova de Finney, Gwen tem sonhos recorrentes que podem ajudar a descobrir onde encontrar seu irmão. 

O QUE ESPERAR

Como disse anteriormente, esse filme é como um aperitivo. E o motivo é simples: é como o  conto em que foi inspirado, e assim deve ser encarado. 
Ele possui elementos típicos de um boa estória de King: o real e o sobrenatural se misturam. Temos a presença de espíritos, de uma personagem “médium”, de dilemas da infância como bulling, laços de amizade escolar, problemas com pais problemáticos… nada muito diferente do que elementos encontrados em “O Iluminado”e “It”, por exemplo. 

O vilão é uma figura interessante. As máscaras usadas por Hawke combinadas com a excelente trabalho do ator é sem dúvida um elemento chave para o sucesso do filme. Mas não pense que o personagem será aprofundado. Sua participação fica na superfície da estória pois, como disse anteriormente, trata-se de um conto. Não há muitas explicações sobre o porque das máscaras, das atitudes doentias e do propósito dos sequestros. 

O foco está em Finney, em como ele se via e encarava os problemas em casa e na escola e em como todo o desenrolar de seu sequestro o impactou. 

Não há profundidade nem mesmo em Gwen que, sem dúvidas, ganha as cenas em que aparece. Inclusive, seus “poderes” são um elemento da trama e até podem parecer de grande relevância, mas acabam não apresentando tanta utilidade na resolução do problema principal do longa. A impressão que fica é que o elemneto sobrenatural da garota está ali por estar. Mas ressalto, a questão é que tanto Gwen, quanto o pai dos garotos, ou todas as relações que os irmãos passam na escola não é o foco do recorte da vida de Finney. 



E este recorte da vida de Finney, em que ele foi sequestrado por uma alma perturbada, é o enredo desse filme. Esse conto de terror que ele vivenciou em sua vida é apenas isso. 
Então não mantenha suas expectativas tão altas quanto ao enredo, ele pode parecer incompleto para quem vai esperando uma intrincada trama, um vilão icônico e cenas de arrepiar a espinha. Mas ele definitivamente vale a pena ao cumprir o que se propõe em fazer. 


VALE A PENA?

A produção é de boa qualidade, com cenas bem gravadas e fotografia excepcional. Scott Derrickson  (mesmo diretor de Doutor Estranho, A Entidade e O Exorcismo de Emily Rose)  subverte ideias e surpreende na direção trazendo um bom suspense com elementos sobrenaturais (é um bom filme para indicar àquele amigo que “não gosta de filme de terror”). 

O sucesso do filme também é inegável tendo em vista os números alcançados: a produção conseguiu ultrapassar a marca dos  US$ 100 milhões nas bilheterias mundiais. 

Minha sugestão é: dê uma chance! Definitivamente é uma boa experiência. Provavelmente não vai ser o melhor filme de terror do ano, mas é inegável o seu destaque na lista de estreias atuais.