O ritmo, a rebeldia e o carísma do rei do rock retratada de forma extravagante e lúdica pela direção de Baz Luhrmann

Definitivamente não é bom ir ao cinema assistir ao filme Elvis (2022) esperando uma biografia cinematográfica convencional. Luhrmann foge da linearidade do tempo, picotando acontecimentos da vida do icônico cantor para deixar em destaque justamente isto: a iconicidade de Elvis Presley envolto em misticismo acerca de seu talento e carisma. 




Quem é Baz Luhrmann?




Para ter mais clareza acerca da peculiaridade do filme, é preciso ter em mente a maneira de produzir de Baz Luhrmann. Diversos diretores são conhecidos por sua marca. E normalmente esta marca é definida pelo estilo particular que cada cineasta resolve adotar. O tom sombrio de Tim Burton, a carnificina de Tarantino, a simetria de Wes Anderson, as cores de Scorsese: são exemplos de como uma marca compõe a assinatura de um cineasta nas grandes telas. Com Baz Luhrmann não é diferente, o diretor possui um estilo inconfundível desde os anos 90.

Sua primeira obra cinematográfica foi Vem Dançar Comigo (1992) que alcançou sucesso porém, por conta do estilo não convencional de Luhrmann, enfrentou dificuldades para conseguir financiamento nos cinemas. Os cenários de Luhrmann sempre foram de exagero. Há extravagância, brincadeiras com o grotesco e até com o ridículo. Parece que o diretor gosta de levar para as telas dos cinemas o espetáculo do teatro com as possibilidades da filmografia.  

Então, quando você for assistir a um filme de Baz Luhrmann espere por exageros, por fantasia, cores vibrantes, personagens caricatos e talvez boas doses de câmera lenta.




Obras para conhecer mais o estilo do artista: VEM DANÇAR COMIGO (1992)/ROMEU + JULIETA (1996)/MOULIN ROUGE! - AMOR EM VERMELHO (2001)/AUSTRÁLIA (2008)/O GRANDE GATSBY (2013)/THE GET DOWN (2016-2017)

O filme: 

A vida de Elvis é apresentada a nós a partir de sua relação com o empresário Coronel Tom Parker (Tom Hanks) alias, o filme parte da narração deste personagem e quase como um delírio, vemos imagens rápidas e picotadas da tragetória de Elvis nos palcos. Partimos das memórias de Parker e de como ele acredita ser o grande criador do artista. 

Tom Hanks está irreconhecível, mas seu trabalho de interpretação é o mesmo de sempre: impecável. É sensível a dualidade da relação entre o empresário com o artista. Fica claro que Parker é o grande vilão da história, mas o personagem tenta tirar vantagem de Elvis ao mesmo tempo que possui certo respeito pelo talento do cantor e assume um papel mais pessoal que o normal em uma relação empresário-artista. 



Austin Butler também brilha como Elvis Presley. É sim bem caricato (proposital de  Baz Luhrmann), mas contribui significativamente para representar a euforia que o artista causava no público com carisma e rebeldia. Há uma mística envolta na personalidade de Elvis que é influenciado pela igreja que frequentou, pela fé de sua mãe e pela música negra de sua época. Basicamente o filme ressalta a sorte de Elvis estar no lugar certo na hora certa ao apresentar para o mundo um rock n’ roll influenciado pelo gospel e pelo Jazz por um homem branco. 

O filme mostra fatos históricos que estão misturados com a vida de Elvis ao retratar em qual situação política e moral os EUA se encontravam ao longo da ascensão da fama do artista, as suas atitudes no palco simbolizaram viradas importantes na moral vigente dos EUA do século XX. 



O longa também retrata um Elvis com dilemas emocionais, bem apegado a família (especialmente a sua mãe), um garoto que queria crescer e voar como um super herói, que queria poder comprar um Cadillac rosa para sua mãe e que possuía grande e genuína admiração pelos artistas negros que o influenciaram na música e até no estilo de se vestir.

Tudo é retratado no ritmo frenético característico de Luhrmann e os pontos altos são, sem sombra de dúvida, as apresentações musicais de Elvis. Hits como Suspicious Mind, I Can’t Help Falling in Love, That’s All Right, entre outros, são momentos em que o diretor abusa de criação de cenários espetaculares e imersivos. Tudo para deixar em destaque o impacto que o Elvis tinha nos palcos. 



Elvis (2022) percorre a trajetória do rei do rock desde sua juventude até a trágica morte devido a uma parada cardíaca aos 42 anos de idade, em 1977. Mas o objetivo principal do longa metragem não é retratar a vida do artista e sim evidenciar a sua “aura” artística, o quanto que Elvis impressionava nos palcos e nas telas. E isto Luhrmann faz muito bem.