Será que já temos o melhor filme do ano?

O Homem do Norte (The Northman | EUA, 2022) é a obra mais recente de Robert Eggers, um dos diretores que mais tem se destacado na atualidade com as obras: A bruxa (2015) e O farol (2020). Os dois únicos longas, até então, de Eggers dividiram a opinião dos espectadores por se tratarem de filmes de terror não convencionais, mas ambos alcançaram êxito e destaque em festivais de horror - A bruxa: O Independent Spirit Award de Melhor Primeiro Filme (2017); Independent Spirit Award de Melhor Primeiro Roteiro (2017); Empire Award de Melhor Horror (2017). O Farol: Bodil Award de Melhor Filme Americano (2021); Spotlight da American Society of Cinematographers (2020).

Eggers deixou sua marca no gênero e, além da criação de uma atmosfera amedrontadora, seus longas se mostram ricos em detalhes que resultam de preocupação com pesquisa para a melhor imersão na história. Tudo parece mais crível, pois possui um pé na realidade mesmo que longínqua (no tempo ou espaço - mas especialmente no tempo). A sensação que se tem ao assistir a qualquer um dos longas de Eggers é a de ouvir uma lenda. 

As histórias são familiares, parecem de um passado distante, pois realmente nasceram lá. A bruxa, O farol e agora O homem do norte tiveram suas origens, não no imaginário de Eggers, mas em algum ponto da história da humanidade. E se perpetuam até hoje, mesmo que de forma branda. O que Eggers faz é trazer de volta a intensidade dessas narrativas, agora em grandes telas. E ele faz isso muito bem.


 Ao assistir A bruxa, não cremos  e tememos bruxaria como os ingleses do século 17 mas, enquanto espectadores, durante aqueles 92 minutos, conseguimos sentir a aflição, o temor e até a angústia daquela família isolada e assolada pela presença de algo maligno. Tudo isso sem jump scares, sem trilha sonora impactante. A atmosfera é absolutamente imersiva. A história de uma bruxa torna a ter peso pra quem a assiste. 

Aqui em O homem do norte, Eggers se desafia. Não temos uma história de terror, mas um épico sobre vingança. E com a promessa de realizar o filme viking mais preciso de todos os tempos, com a ajuda de historiadores e arqueólogos especialistas em cultura viking para produzir o roteiro e conseguir recriar os costumes, materiais e cenários.   


A história do filme foi baseada, em especial, na lenda viking de Amleth, escrita pelo historiador dinamarquês Saxo Grammaticus (amplamente conhecida pela clássica adaptação de William Shakespeare: Hamlet). Uma narrativa típica do imaginário nórdico antigo: um drama familiar recheado de tragédia e vingança. Aqui temos o príncipe Amleth (Alexander Skarsgård), em Landnámsöld (Islândia em islandês. Landnámsöld, crê-se ter iniciado na segunda metade do século IX com a migração de colonos nórdicos ao longo do Atlântico Norte), no ano de 914, que vivencia o assassinato de seu pai, o rei Horvendill (Ethan Hawke) pelo seu próprio tio (Claes Bang). O garoto foge, porém com a promessa de vingança, retomada de seu reino e resgate de sua mãe (Nicole Kidman). Passados 20 anos, Amleth é chamado por uma vidente para cumprir sua promessa e entra, então, numa odisseia em busca desse objetivo.  


O filme mistura a ação, aventura e até o sobrenatural presente em uma saga épica baseada na cultura viking. Com um verdadeiro espetáculo visual, tanto da ambientação quanto na caracterização dos personagens. A trilha sonora contribui significativamente para a imersão junto das excelentes atuações.


Aqui temos Anya Taylor-Joy, que iniciou carreira no cinema em A bruxa de Eggers, sua personagem, Olga, aparece ao mesmo tempo como elemento romântico e místico na trama, roubando a cena quando em tela, assim como personagens interpretados por Willem Dafoe e Björk. As visões culturais místicas e crenças no ocultismo entram em cena através desses personagens. 


As cenas de luta são em plano-sequência, são momentos bem elaborados e coreografados que impactam em cada golpe.  

Para os fãs de Robert Eggers este é um prato cheio. Dá pra se deleitar com o cuidado e talento do diretor ao longo da produção que possui sua marca, apesar de diferir bastante dos seus antecessores. Para quem espera um filmaço no estilo Hollywoodiano, talvez os 137 minutos se tornem arrastados. 



Quanto a minha opinião: o filme é fascinante. A fotografia é impecável, elenco excelente, trilha sonora impressionante e que cumpre bem o seu papel. Bom roteiro, bom figurino, boa direção. O homem do norte parece ter boas chances de receber prêmios de melhor filme. Me surpreenderá se aparecer algum outro tão bom quanto até o fim deste ano.